sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Uma forma de começar um fim-de-semana

A meio da tarde recebes uma sms da "é aquela": "Vamos ver a Feira de Natal do Campo Pequeno?" Uma boa oportunidade para estares junto dela, partilhares gostos com ela, rires das mesmas coisas que ela. O resto da tarde é passado com a cabeça no ar. A reunião com a colega é feita a correr, rematada com um enorme sorriso e um então-eu-guardo-uns-momentos-na-minha-agenda-para-esse-miúdo. O atendimento da tarde é conduzido de forma leve com uma série de hum-hum-parece-me-que-temos-de-refletir-sobre-isso. O final de dia parece uma eternidade e te faz pensar na-porra-do-tempo-que-se-arrasta.

"Àquela" hora estás lá para a ires buscar, depois de teres protestado na auto-estrada com os condutores que se dirigem para a ponte, reclamado com os semáforos vermelhos que nunca mais se despacham a mudar para verde, de teres ajeitado o colarinho da camisa, o cabelo desalinhado e os sapatos que teimam em estar desapertados. Finalmente estás ao lado dela e sorriem, trocam uns olhares cúmplices, contam as novidades do dia.

No Campo Pequeno, porque ela não aprecia homens que andam às voltas com o carro nas ruas paralelas para não gastarem um ou dois euros, estacionas no parque de estacionamento. Sobem de elevador com o mesmo olhar idiota, aquele mesmo que se costuma ter quando dizem que se tem borboletas-na-barriga, e já na rua, procuram a entrada do recinto, rindo do movimento de rotação sem fim que estão a dar, só por terem estacionado no parque.

Ao chegar à entrada, o porteiro-que até tem ar de boa pessoa- desfaz-se em desculpas mas "A Feira encerrou às 21 horas".

(Escusado será dizer que a noite ficou estragada pois como qualquer espécime do sexo feminino a "aquela" amuou com a notícia. Mulheres...)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Complexo ou o Dr.Phil?

Para quem possa pensar que eu possa ser o Dr. Phil da blogosfera, tenho a comunicar que:

1. Eu tenho uma zona labial digna de um aristocrata sportinguista e uma careca subtil. O Dr. Phil tem um bigode digno de um benfiquista e uma careca flagrante.

2. Eu consigo receber algum dinheiro para pôr a refletir individualmente pessoas que querem ser diferentes perante o seu pequeno mundo. O Dr. Phil consegue receber dinheiro para humilhar publicamente pessoas que querem ser expostas perante um país (mundo?) inteiro.

3. Eu não consigo formular um juízo de valor sem ter o "fantasma" do código deontológico a controlar-me as emoções e um cliente a dizer um estou-aqui-a-pagar-não-é-para-defenderes-essa-cabra. O Dr. Phil consegue formular juízos de valor como " E não tem pena da desgraçada da sua mulher que..." e receber a concordância do seu interlocutor.

4. Eu acabo os meus "atendimentos" com um aperto de mão e um então-até-à-próxima-doutor-e-eu-vou-já-passar-pela-receção. O Dr. Phil acaba as suas "consultas" aplaudido em pé.

5. Num final de dia, eu fumo um cigarro ao pé do carro a contar os riscos que algum "paciente" decidiu fazer depois de ter dito entredentes toma-sacana-para-aprenderes-a-não-te-meteres-na-vida-dos-outros. No final dos programas, o Dr. Phil recebe um "beijinho" da esposa que o olha com um ar embevecido.

Em suma, entre o Complexo e o Dr. Phil existe uma proximidade diferencial.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

New kid on the blogger

Sou novo por estas andanças.
Tenho sido uma espécie de voyeur na blogosfera: sigo links, uns puxam os outros, abro janelas, fecho janelas, retenho-me a ler alguns com atenção, solto gargalhadas com outros. Invariavelmente, volto aos mesmos. 
Preciso de alargar a minha "blogografia". 
Portanto, digam-me de vossa justiça: qual o vosso blogue feminino e masculino preferidos e porquê.
Se quiserem ir mais além na análise da coisa: qual o blogger feminino e masculino que gostaria de conhecer e porquê.
Prometo que psico-analiso detalhadamente as vossas respostas. E actualizo a minha lista de leitura diária de blogues. 
Grato. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ovos de Verão ou Receita para "despertar" uma mulher

Preparação da receita
(ou como preparar os preliminares)

Colocam-se seis ovos a cozer com todos os cuidados necessários: 1. inserir os ovos na água enquanto esta ainda está fria, 2. pôr um pouco de sal, 3. depois da água entrar em ebulição são exatamente oito minutos, 4. quando terminar escorrer a água quente e mergulhá-los logo em água fria.

Colocamo-nos em alerta com todos os cuidados necessários: 1. um elogio à aparência física da mulher ou a uma parte do corpo que ela valoriza, 2. um olhar provocador (inocente ou malandro de acordo com o elogio do ponto 1), 3. demorar algum tempo a olhar nela (entre dois a cinco minutos) e não para ela, 4. fazer-se um pouco despercebido para não mostrar o jogo todo.

Quando estiverem frios, cortam-se os ovos em metades e retiram-se as gemas com uma colher de sobremesa para uma taça. Colocam-se as metades direitinhas num prato.

Quando estiverem mais à vontade, fazer uma carícia terna (acompanhada do olhar do ponto 2 da primeira etapa) e questionar como se sente ou como correu o dia, aproveitando para estender as carícias a uma massagem suave, com a ponta dos dedos, em determinado ponto do corpo (parte de corpo "inocente") tal como mãos, braços ou pés.

Na taça, mistura-se as gemas com uma lata de atum (com o óleo escorrido), uma colher de maionese e tempera-se com sal, pimenta e um pouco de salsa picada. Mistura-se tudo com um garfo até obter uma pasta homogénea.

Enquanto ela fala (não esquecer como as mulheres gostam de conversar) a massagem pode estender-se de forma gradual aos ombros ou costas ou pés (atenção que eu digo ou) começando sempre com a ponta dos dedos (três minutos), mão inteira (cinco minutos) ao fim dos quais pode ser "temperada" com um pequeno ósculo (apenas roçar de lábios).

Com uma colher de sopa coloca-se um pouco deste recheio em cima de cada metade de ovo de forma equitativa, e espalma-se com a colher para que o recheio fique com a forma da outra metade do ovo.

Com alguma calma, avance com a massagem digital, pontuada com pequenos beijos, para outras partes do corpo, sobretudo as erógenas, sem esquecer que na mulher estas não se limitam aos seios e vagina. Lóbulos das orelhas, pescoço, fundo das costas e coxas têm grande pontuação. Esta etapa deve demorar uns bons dez minutos.

É só servir.

É só entrar em ação. 


(receita dada a paciente cuja vida sexual andava um pouco desleixada e o resultado encontra-se acima representado apesar de ser notória a  falta de salsa)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Acordo tarde porque os lençóis colaram-se no meu corpo. Chego atrasado à primeira reunião da manhã, e como sou um homem de rituais, conduzo a reunião com o mesmo tempo de duração que esta teria se eu tivesse chegado a horas. E como este padrão se mantém ao longo do dia, chego mais tarde a todos os compromissos e acabo mais tarde todos os momentos.

No final do dia, entro a correr, ou melhor a voar, no gabinete e espera-me a última marcação do dia. Uma adolescente (ou seria melhor apelidá-la de "aborrescente?") espera-me na entrada, enroscada no sofá com uns auscultadores mergulhados nos ouvidos de onde jorra os últimos êxitos de "kizomba", debaixo de um blusão de penas de onde apenas se vislumbra um par de olhos vivaços e os joelhos gastos das calças de ganga.

Entro no gabinete e fecho a porta. Pouso a pasta e respiro fundo, retirando do fundo dos pulmões os restos do fumo do cigarro que vim a fumar (ou a queimar) do carro até ao portão do prédio. Componho o cabelo e a roupa e coloco a máscara da serenidade. Abro a porta e convido-a a entrar. Sentamo-nos nos sofás, num ângulo de 90º. Se fosse frente-a-frente haveria confronto e lado-a-lado seria intimidatório. Estamos na posição correta. Podemos começar.

Sabes porque estás aqui? a setôra mandou-me. mandou-te porquê? porque não me porto bem na escola e  a minha mãe não me consegue suportar em casa. só por causa disso? não acredito que te mandassem falar comigo apenas por algum mau comportamento...sim.

Olho pelo canto do olho para a ficha de sinalização. Indisciplina, roubos a colegas, vandalismo de salas de aula. Como é que aquele ser com ar frágil, acabada de sair de um tempo de infância, comete atos que sabe serem condenáveis socialmente?

A conversa simples desenrola-se durante meia hora e revela a origem desta atitude que não é diferente da de outros adolescentes da mesma idade: quer ser diferente.
Diferente de um pai que sai logo de manhã para o trabalho e regressa tarde, após umas boas horas no bar próximo e mais enfrascado do que uma caixa de J&B. Diferente de uma mãe demasiado cuidadora de toda uma família e que se esquece de si ao ponto de aguentar um casamento "pelos filhos" apesar de ter de andar de manga comprida em julho para ocultar uma outra nódoa negra, resultado da encomenda de J&B que recebe todos os dias em casa. Diferente de todas as setôras lá da escola que vão passando pelos alunos com ares de superioridade e só se lembram do nome dela para fazer "relatórios de ocorrência". Diferente das colegas que se valorizam por namorados roupas-de-marca telemóveis facebooks.

Sorrio. Vamos descobrir outras formas de seres diferente? Ela sorri.